O Sexo Mórmon

por Miguel Leal -

“Os profetas têm ensinando que a intimidade física pode fortalecer o laço de amor que existe no casamento, aumentando e reforçando a união marital. De fato, é o dom de Deus para os casados” (Ensign, Agosto 1979, pg. 23-24).

Introdução

Os que me conhecem pessoalmente ficariam supressos se soubessem que pessoas que nem conheço frequentemente me perguntam sobre o sexo. Sou uma pessoa reservada e não sei tanto sobre relacionamentos além daquilo que de vez em quando leio em blogs mórmons.

No entanto, através de meu website frequentemente recebo perguntas sobre o sexo, perguntas que geralmente deixo passar em branco. Tenho recebido um bom número de perguntas destas recentemente, então decidi escrever “o manual definitivo sobre o sexo mórmon”, escrito de uma perspectiva não oficial por alguém que não sabe do que fala. A minha ignorância nunca me impediu de escrever sobre outros assuntos, então suponho que não vai me impedir agora. 🙂

Ensinamentos Mórmons sobre o Sexo

Mórmons acreditam que o sexo é sagrado. Não é sujo ou vergonhoso. No entanto, fora do casamento devemos evitar a intimidade sexual. Sexo é uma expressão sagrada de amor, não “uma diversão”. É um símbolo de um laço sagrado, o laço marital, um laço que vai muito além de simples romance. Usar este símbolo sagrado em outro contexto é zombá-lo. É como encher o bolso do pão sacramental para que possa comê-lo como lanche gostoso na segunda-feira. Claro que o arrependimento é sempre possível, mais é muito melhor psicológica e espiritualmente evitar o sexo fora do casamento em primeiro lugar.

Dentro de um casamento, na outra mão, o sexo é incentivado. Uma publicação da igreja (“Para o Vigor da Juventude”) até ensina que “a intimidade física entre marido e mulher é bela”. Se eu me lembro bem, uma pesquisa recente sugeriu que Provo, Utah é a cidade mais sexualmente ativa nos Estados Unidos. No início, não acreditei nesta pesquisa; 88% dos Provoanos são mórmons. Então percebi que a pesquisa incluiu o sexo entre pessoas casadas! Obviamente o estereótipo que Mórmons são sexualmente reprimidos não é correto!

A intimidade sexual é uma forma sagrada de comunicação entre duas pessoas. “Entre duas pessoas” quer dizer que ambos participantes são ativamente envolvidos em cultivar a sua vida íntima; uma não é passiva, mesmo se aceita passivamente, porque a importância do sexo vai muito além de procriação. A intimidade é para fortalecer o laço entre homem e mulher. “Para o Vigor da Juventude” providencia o seguinte conselho: “[A intimidade física] é ordenada por Deus para a criação de filhos e para a expressão do amor conjugal”.

Assim como tomamos o sacramento regularmente para lembrar de nossos convênios batismais, o sexo pode ser considerado um ritual particular para renovar o convênio marital. De repente é por isso que Deus incentiva a intimidade sexual dentro de um casamento:

“Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra…” (Gênesis 1:28).

“O marido pague a mulher o que lhe é devido, e do mesmo modo a mulher ao marido. A mulher não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido; e também da mesma sorte o marido não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher” (1 Coríntios 7:3-4).

“Homens e mulheres… São autorizados, de fato são mandados, a praticar o sexo quando são devidamente casados para o tempo e para eternidade” (Spencer W. Kimball).

Quais Práticas Sexuais são Permitidas dentro de um Casamento?

Pelo que tenho lido, no passado a Igreja procurava regular as práticas sexuais de seus membros casados. No entanto, nas décadas recentes a Igreja SUD tem deixado as decisões particulares sobre quais atos específicos são aceitáveis nas mãos dos próprios casais. Em 1982, por exemplo, uma carta foi mandada da sede da igreja ensinando os líderes das alas e estacas que devem “evitar perguntar sobre as práticas íntimas de casais”.

No entanto, mesmo sem ter a direção especifica de líderes da igreja, dois princípios claramente se aplicam. Primeiro, um cônjuge nunca deve coagir, manipular ou forçar o outro a participar em práticas com quais não esteja confortável. É natural discutir certas práticas no espírito de bondade, mas não se força num casamento saudável.

Segundo, uma terceira pessoa nunca deve entrar na vida íntima do casal. É óbvio que atividades como ménage à trois, troca de casais ou poligamia não são aceitáveis. Ademais, alguns tolamente danificam os seus casamentos ao envolver uma terceira pessoa vicariamente através de imagens e textos explícitos. Disse Jesus, “Aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela” (Mateus 5:28).

É tolo imaginar que cobiçar assim é um problema só dos homens. 17% das mulheres nos Estados Unidos são viciadas na pornografia, e um em cada três pessoas que visitam sites pornográficos são mulheres. Devemos estar sempre vigilantes para manter os nossos casamentos saudáveis e felizes.

Quando um Casal não é Sexualmente Compatível: Introdução

Não há uma frequência certa para o sexo. Nos Estados Unidos, casais fazem amor 2 a 3 vezes por semana em média, mas a frequência varia muito de casal em casal. Se ambos cônjuges têm necessidades sexuais similares, a frequência não é importante. Alguns casais estão mutuamente confortáveis com uma frequência mais que a média; outros são mutuamente confortáveis com uma frequência menor.

Pelo que tenho visto, problemas geralmente acontecem quando um cônjuge é mais carinhoso que o outro. É tolo aceitar estereótipos que erroneamente sugerem que os homens são universalmente mais sexuais que as mulheres. Recentemente recebi um email de uma esposa que queria que seu marido fosse mais sexual. Da mesma forma, outro email veio de um marido que sente saudade de sua esposa.

É importante não deixar problemas como estes passar em branco, já que podem destruir casamentos. Para ser franco, suspeito que mais casamentos terminam por causa de frustrações sexuais do que por pornografia. “Se você estuda divórcios, como nós temos feito nos anos recentes, descobrirá que há um, dois, três, quatro motivos. Geralmente o sexo é o primeiro. Não são compatíveis sexualmente. Não dizem isso perante o juiz. De repente nem dizem isso para seus advogados, mas é o motivo” (Spencer W. Kimball).

Quando um Casal não é Sexualmente Compatível: É preciso Paciência e Entendimento

Na maioria dos casos, a incompatibilidade sexual não é o produto de negligência. Geralmente esta incompatibilidade requer paciência, entendimento e tolerância. Por exemplo, problemas de saúde podem interferir com a intimidade marital, já que podem fazer com que a atividade sexual seja mais difícil. Dor durante o sexo é comum em mulheres que estão passando pela menopausa. Problemas sexuais também são comuns em homens de uma certa idade. Muitos remédios, como antidepressivos, também podem alterar o funcionamento sexual. Nestes casos, o cônjuge com desafios de saúde tem a responsabilidade de ativamente buscar a ajuda médica. Há tratamentos para alguns problemas sexuais; tratar as causas destes problemas frequentemente melhora outros desafios médicos também. Na outra mão, é a responsabilidade do cônjuge saudável ser paciente e apoiador. O cônjuge menos ativo obviamente não tem culpa por ter estas dificuldades sexuais.

Problemas psicológicos também podem interferir com a intimidade marital. O abuso sexual é muito mais comum na nossa sociedade que muitos imaginam. Na América do Norte, 15 a 25% das mulheres e 5 a 15% dos homens são abusados sexualmente quando crianças, e uma em cada seis mulheres já sofreu um estupro tentativo ou sucedido. O número de homens que já foram estuprados é também surpreendentemente alto. O fato que um cônjuge nega o abuso sexual não quer dizer que nunca aconteceu; tragicamente, muitas pessoas têm tanta vergonha que não conseguem conversar sobre o abuso, nem com as pessoas que amam. O abuso sexual pode causar um trauma psicológico que entendivelmente interfere com a intimidade marital.

A infidelidade em todas as suas formas (a pornografia, o adultério, etc. e tal) também pode edificar barreiras emocionais que complicam a sexualidade do outro cônjuge. Embora estas barreiras são naturalmente esperadas quando o cônjuge pecador não quer arrepender-se, as vezes estas barreiras psicológicas complicam a intimidade mesmo quando o cônjuge infiel já arrependeu-se e superou as tentações do passado.

Outra barreira psicológica que complica a intimidade é o chamado “Síndrome da Moça Educada”, embora eu creia que esta barreira não se limita só às moças. Homens e mulheres mórmons solteiros passam anos controlando os seus desejos sexuais. Às vezes não é fácil acender a sexualidade na primeira noite da lua de mel para que se transforme subitamente em um ser sexual. No seu Livro “And They Were Not Ashamed”, Laura Brotherson descreve este desafio: “‘O ‘Síndrome da Moça Educada’ é o resultado de ideias que vêm de pais, igrejas e a sociedade quando deixam de ensinar —como é maravilhosa a sexualidade e o seu propósito divino. Estas ideias produzem pensamentos e sentimentos negativos sobre o sexo e o corpo humano, fazendo com que a sexualidade dentro de um casamento seja inibida… O Síndrome da Moça Educada é de repente uma grande causa pouco apreciada de frustração sexual em muitos casamentos.”

Assim dificuldades sexuais nos primeiros meses de um casamento não são necessariamente anormais, mas se estes problemas continuam, desafios psicológicos persistentes podem ser a raiz do problema.

Problemas psicológicos também podem produzir uma hipersexualidade não saudável. Em alguns raros casos a sexualidade tem um componente de transtorno obsessivo-compulsivo. O vicio sexual vai muito além de simplesmente ter um desejo sexual elevado; é realmente patológico. Alguns remédios também podem aumentar o desejo sexual até um nível anormal. Claro que o vicio sexual de jeito nenhum justifica a infidelidade. No entanto, mesmo dentro de um casamento, pode ser problemático.

Em todos estes casos, o cônjuge que tem o desafio psicológico tem a responsabilidade de buscar a ajuda de um bispo e/ou um psicólogo. Na outra mão, é a responsabilidade do cônjuge saudável ser paciente e compreensivo. Obviamente, ninguém tem culpa por dificuldades emocionais/psicológicas que nunca foram escolhidas.

Finalmente, a desigualdade em um casamento pode destruir a intimidade saudável. A igualdade não quer dizer que os papeis do homem e mulher no casamento têm que ser iguais, mas o respeito mútuo e o esforço igual são muito importantes. Às vezes homens pensam que, já que têm o sacerdócio, podem dominar as suas esposas. Esta atitude não é compatível com o evangelho de Jesus Cristo. Às vezes um cônjuge se torna hipercrítico e arrogante na hora de falar com o outro. Este tipo de comportamento, que só serve para humilhar, também não é compatível com o evangelho de Jesus Cristo. Quando um cônjuge maltratado ou desrespeitado evita o sexo nestas situações, não é que ele ou ela é simplesmente vingativo. Sexo nestas circunstâncias é realmente emocionalmente difícil. Casais que têm esta dificuldade devem buscar a ajuda profissional. Um bispo de repente pode ajudar, especialmente com os problemas espirituais, mas um conselheiro matrimonial é ainda mais útil em muitos casos.

Quando um Casal não é Sexualmente Compatível: A Negligência

Em alguns raros casos, a incompatibilidade sexual continua mesmo quando os problemas descritos acima não estão presentes. Por exemplo, imagine um casal saudável que se ama e vive em um relacionamento de igualdade. Ambos os cônjuges já resolveram as traumas psicológicas do passado que poderiam ter interferido com a intimidade física. O homem por acaso não sente muito desejo sexual; a mulher já é mais ativa. De repente o homem só pensa no seu trabalho, assim negligenciando as necessidades sexuais e emocionais de sua esposa. Este mesmo site recentemente recebeu uma mensagem de uma esposa numa situação parecida.

Ou de repente, como às vezes acontece, uma esposa que tem necessidades sexuais mínimas fica tão ocupada com passatempos ou tarefas que, mesmo quando não há barreiras psicológicas ou físicas que impedem a intimidade, ela negligencia o seu marido, colocando as necessidades emocionais dele ao lado.

No casamento precisamos colocar as necessidades do cônjuge em primeiro lugar. Quando não há dificuldades legítimas como as descritas acima, o sexo é geralmente essencial para o bem estar emocional. Para a maioria das pessoas, o sexo é o supremo símbolo de união e amor marital. Para muitos, simplesmente não há outra forma de comunicação que pode substituir a intimidade sexual. Se um cônjuge é negligenciado injustamente, em tempo este cônjuge geralmente começa a acreditar que não é digno de carinho, nem de amor.

A negligência sexual é por isso um pecado muito sério. É sério assim como o uso de pornografia é muito sério. Tanto a negligência quanto o uso de pornografia dão mais importância aos desejos do indivíduo do que ao bem mútuo do casal. Pelo menos no caso de pornografia há um componente viciador. O pecador tolo que inicialmente escolheu ver imagens ilícitas ou ler histórias sensuais pode, em tempo, desejar parar. Ele ou ela pode até tentar parar, só para descobrir que não consegue sem ajuda. No caso de negligência, no entanto, não há um componente viciador. É puramente uma escolha pessoal.

Cada ser humano é diferente; a sexualidade naturalmente varia de pessoa em pessoa. Embora sempre escolhamos o nosso comportamento, nem sempre podemos controlar a natureza de nosso desejo sexual em si. Ser empático e compassivo para com o nosso cônjuge, no entanto, é uma escolha pessoal que devemos fazer cada dia, em todos os aspectos de nossos casamentos. Cuidar das necessidades emocionais de um cônjuge pode aumentar a auto-estima e fortalecer o relacionamento. Negligenciar estas necessidades pode humilhar e destruir a auto-estima.

Finalmente, um email que recentemente recebi de um irmão da igreja ilustra um outro assunto problemático. Ele é dedicado a sua esposa mais sofre muito com a sua negligência. Como consequência desta negligência, outras mulheres chamam a sua atenção. Creio que ele não fica cultivando pensamentos sobre estas mulheres; pelo menos ele não mencionou nada assim no seu email. Suspeito que elas só chamam a sua atenção brevemente; ele logo procura pensar em outras coisas.

Quando um cônjuge é sexualmente frustrado, ele ou ela pode se sentir atraído por outras pessoas fora do casamento. Se o adultério resulta, o cônjuge negligenciador é culpado? Claro que não. Cada pessoa é responsável por suas próprias escolhas e pecados, independentemente das circunstâncias em quais se encontra. Felizmente, a maioria dos bons mórmons em situações de negligência não vai ceder a estas tentações, mas isso não quer dizer que não vai sofrer por causa delas. Deixe-me explicar melhor.

A tentação em si não é pecado. Até Jesus Cristo foi tentado por Satanás no deserto. No entanto, muitos mórmons, embora entendam que não são culpados por passar por tentações, entendivelmente sentem emocionalmente atormentados. Assim a tentação, embora não pecaminosa, pode produzir culpa e fraqueza espiritual não produtivas. Às vezes estas preocupações podem até resultar em problemas espirituais, dificuldades que poderiam ter sido facilmente evitadas se o outro cônjuge tivesse sido mais altruísta e compassivo. Negligência assim produz mais que simples sentimentos de frustração, tristeza e baixa auto-estima. As consequências podem até ser espirituais.

Conclusão

Espero que este artigo ajude! Também espero que eu nunca mais tenha que responder uma pergunta sobre o sexo! 🙂 No futuro poderei simplesmente mandar este artigo para os interessados.

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